Vampiro e a Literatura Fantástica Brasileira

Quando você pensa em “Vampiro”, o que lhe vem à mente? Certamente vai se lembrar de Drácula de Bram Stoker. E quanto à Literatura Fantástica Brasileira? E se eu lhe disser que os vampiros foram responsáveis por avivar o fantástico no Brasil?

O imaginário popular sempre esteve ocupado pela figura do vampiro e dos mortos-vivos. Por exemplo, na Idade Média os draugr saíam de suas tumbas e atacavam viajantes incautos que ousavam se aventurar. Na Europa Oriental, o mito foi tomando a forma que mais se aproxima do que conhecemos hoje. Na verdade, relatos de criaturas vampirescas e seres capazes de tomar o seu sangue para viver mais existem desde que a humanidade se entendeu como, bem, humanidade propriamente dita. O sangue, sendo nosso fluído vital, certamente seria um dia a fonte de alimentação de uma criatura tão pérfida que não se importaria em sugar a sua vida.

Mas foi Bram Stoker quem popularizou o vampiro entre nós. Drácula de Bram Stoker foi responsável por trazer ao nosso imaginarium a criatura mais aterrorizante durante muito tempo. Primeiramente, Drácula era inspirado claramente por Vlad, o Empalador, príncipe responsável por defender a Valáquia, seu território, do avanço turco do Império Otomano, governando entre 1456 a 1462 e depois em 1476. Afinal, pouco importa a aula de história, exceto pelas atrocidades cometidas por Vlad Drakul, como também era conhecido, empalando centenas de prisioneiros de guerra apenas para mandar uma mensagem. Então essa história despertou interesse em Stoker, que o transformou numa criatura eterna e de pura maldade que se alimentava da vida das pessoas inocentes.

Assim, anos mais tarde, foram os vampiros que ajudaram o Brasil a dar o primeiro passo no caminho literário da fantasia. Na década de 90, aportou no Brasil o livro Os Sete, sobre uma caravela portuguesa descoberta na costa brasileira, contendo sete sarcófagos com vampiros milenares e portugueses, cada um com seus poderes. Esse livro, de autoria de André Vianco, foi o estopim para que os brasileiros finalmente entendessem que nós podíamos alçar voos muito maiores dos que já tinham sido alcançados.

André Vianco, escritor de livros de terror e fantasia, sendo o vampiro um dos principais pontos tratados por ele.
André Vianco

O Brasil, pelo menos até essa época, considerava-se retrógrado quanto a literatura fantástica. Claro, tivemos a nossa pioneira Emilia Freitas em 1899 (e você achando que só a Mary Shelley fez história, né?), uma cearense autora de A Rainha do Ignoto, considerada a primeira obra fantástica brasileira! Porém, logo essa chama se apagou em troca de histórias mais sérias e pautadas na realidade brasileira. Vide O Cortiço, Vidas Secas, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro… Enfim, as editoras brasileiras publicavam obras como O Senhor dos Anéis e até Harry Potter (cuja autora eu prefiro pensar que sumiu após concluir os livros e nunca teve acesso ao Twitter), mas não acreditavam que seu próprio povo era capaz de criar mundos e enredos tão incríveis quanto esses do exterior.

Para sempre lembrada

Não era comercialmente agradável aos editores ter nomes brasileiros nas capas. E André Vianco enfrentou o primeiro problema: O preconceito. No entanto, engana-se quem acha que essa foi a primeira obra de Vianco a ser lançada dessa forma. Antes de Os Sete chegarem ao patamar de atrair atenção de editoras, o escritor se arriscou ainda com O Senhor da Chuva. Publicado um ano antes, tratava-se de uma batalha espiritual entre anjos, demônios e, veja só, o surgimento do primeiro vampiro.

Vianco nunca desistiu do seu sonho de publicar Os Sete com uma grande editora, mesmo dando todo o seu FGTS para atingir seu objetivo. E a recompensa chegou. A Novo Século abraçou a ideia e passou a publicar muitas outras obras de André. Na sequência, Sétimo e a trilogia Turno da Noite vieram para arrasar com as vendas. Também houve uma nova edição de Senhor da Chuva (um livro que ganhei dos meus colegas de classe no primeiro ano do colegial, inesquecível).

Hoje, como escritor, me pergunto: O que seria do Brasil se as editoras não tivessem deixado de lado o preconceito? Onde estaríamos hoje? Eu ainda teria a vontade de ser escritor, mesmo sem inspiração no mercado brasileiro? Duvido muito.

Depois de Vianco, muitos outros vieram. Eduardo Spohr, Raphael Draccon, Leonel Caldela… Mas eles também merecem destaque como bandeirantes nesse território pouco explorado da fantasia brasileira. Enfim, aos poucos vamos deixando de lado o folclore europeu para dar atenção à nossa forma de escrita, às nossas verdades. Aos poucos deixando de lado Tolkien e criando nós mesmos as nossas lendas.

Pois somos mais do que capazes.

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