OGL 1.1 e a Guerra Travada Contra a Wizards

Bom dia, boa tarde, ou ainda, boa noite aventureiros! Banhsoy por aqui. Depois de um período sombrio no meio RPGistico. Muitas pessoas viram as notícias, comoções e hashtags sobre a mudança interna da Wizards e ficaram totalmente perdidas e sem saber o que aconteceria com seu tão amado RPG. Então, para ajudar vocês, nobres aventureiros, vou explicar da forma mais completa e de fácil compreensão que der sobre essa OGL, e ao final, fazer algumas ponderações sobre o tema.

O que é a OGL?

Começando do princípio, Open Game Licenses, ou OGL, é uma licença pública de direitos autorais que a Wizards of the Coast (WoTC) fez para Dungeous and Dragons durante a terceira edição do RPG há mais de 20 anos atrás. Basicamente permite que os sistemas derivados d&d possam ser usados de forma gratuita e aberta por qualquer livro que compartilhe a licença em seu material.

Em resumo, a OGL explica o que é o sistema e determina o que pode ser produzido com ele. Assim, este documento fala para produtores de conteúdo e editoras certas permissões dadas pela Wizards para uso de seus conteúdos. Um exemplo disso é a autorização para uso dos capítulos de regras em suas próprias produções.

 Isso ocorre por meio de algo chamado System Reference Document, que é uma referência para mecânicas de jogo licenciada por meio da OGL, que dá um norte para produtores de conteúdo criarem materiais compatíveis com o D&D. Além disso, é estabelecido pela empresa, algumas diretrizes para a produção de conteúdo, para não confundir o que pode ser usado com a propriedade intelectual da marca.

Assim, podemos ver isso ocorrendo em dezenas de livros que versam sobre jogos de RPG, inclusive em livros como Ordem Paranormal, Mutantes e Malfeitores, 13ª Era, DCC RPG, Pathfinder e Tormenta.

A Importância da OGL para o Cenário

O espírito de como é a OGL 1.0 (e o espírito de RPG que nós conhecemos hoje) foi colocado no prefácio do livro do jogador da quinta edição, onde no final do capítulo podemos ler o seguinte texto de Mike Mearls ( gerente sênior da equipe de pesquisa e design de D&D, e um dos lideres de design da 5ª edição):

Acima de tudo, D&D é seu. As amizades que você fizer ao redor da mesa serão únicas para você. As aventuras que você embarcar, os personagens que você criar, as memórias que você adquirir – tudo isso será seu. D&D é o seu cantinho pessoal no universo, um lugar onde você tem o poder de fazer tudo que desejar.

A OGL sempre foi utilizada pela comunidade, e ela é muito importante, para não dizer essencial, para alguns títulos e algumas editoras ao redor mundo, servindo como base para que essas obras diferentes possam existir e editoras possam se sustentar.

Além disso, vários jogos que não usam a OGL tão abertamente a tiveram ela como referência para sua própria produção de conteúdo de RPG.

Analisando até agora, vemos a importância que esse documento tem em todo cenário, mas, as coisas passaram a ser diferentes para a diretoria da Wizards, onde recentemente, através do site do D&D Beyond, a empresa disse que estava revisando os termos dessa OGL, e que essa licença nova e “atualizada” iria revogar o status da licença anterior, e é aqui onde as coisas ficam mais difíceis.

As Mudanças

Por meio de alguns vazamentos da OGL 1.1 no portal Gizmodo, toda a comunidade que joga e ama RPG pode ter um vislumbre da mudança de filosofia na empresa. E assim, agindo como um dragão vermelho, a Wizards quis ter controle de tudo aquilo que tem a ver com a marca, e ainda, monetizar de toda forma possível.

O primeiro ponto a ser abordado sobre isso é um problema por si só, pois, com uma licença “antiga” revogada e desautorizada, vários trabalhos que já foram feitos e publicados com essas licenças ficam em uma espécie de limbo jurídico.

Muitos Juristas (especialistas na área) disseram que ela é irrevogável, como a OGL 1.0a deu a entender em seu texto, o que quer dizer que, para aqueles que produziram seu material durante a vigência da licença antiga, tem seu conteúdo como válido, haja vista ele já foi publicado, e quando aos novos materiais, estes não poderiam ser publicados pela nova licença

Há também outras questões a serem abordadas, pois de acordo com o que se teve de vazamento da nova licença, há uma cláusula específica que, resumidamente diz que se você quer lançar o seu material usando essa licença você precisa enviar para a Wizards, que irá avaliar uma eventual aprovação de seu conteúdo. Além disso, no momento que você faz isso, seu material pode ser utilizado pela empresa como ela bem entender.

Essa nova política e filosofia da empresa afeta o meio negativamente, pois além dos produtores de conteúdo que dependem de financiamento coletivo para lançar suas obras. Assim,. muitas editoras que são especializadas em conteúdo nerd ficaria dependente exclusivamente da escolha da empresa para publicar suas obras, ao exemplo da Kobold Press que acaba publicando a série de suplementos e aventuras para a quinta edição

Além desses problemas, o buraco fica cada vez mais fundo ao analisar uma cláusula da nova OGL onde é citado pela empresa que, projetos com faturamento acima de 750.000 dólares anuais vão precisar dar uma taxa de 25% com base em suas vendas para WoTC, tornando quase impossível para criadores colocar livros nas prateleiras.

Ainda, esse comportamento anticompetitivo sufoca todo um cenário que se estabeleceu nos últimos 20 anos, oprimindo as editoras e tirando a renda de centenas de escritores, artistas e game designers que dependem desses sistemas para produzir seus conteúdos.

E para quem acha que não poderia ficar pior, tenho péssimas notícias, com a nova licença algumas mesas de RPG virtuais, como o Foundry, ROLL20 e Shard, não conseguiriam suportar os sistemas da nova OGL e dificilmente conseguiriam se manter

A Vitória da Comunidade

Vendo a comoção do público com todas essas mudanças, e a percepção de que a empresa simplesmente queria lucros exacerbados, a Wizards soltou o seguinte comunicado referente a uma versão 1.2 da nova OGL:

“O próximo OGL conterá as disposições que nos permitem proteger e cultivar o ambiente inclusivo que estamos tentando construir e especificar que abrange apenas conteúdo para TTRPGs. Isso significa que outras expressões, como campanhas educacionais e beneficentes, transmissões ao vivo, cosplay, Os usos de VTT, etc., permanecerão inalterados por qualquer atualização do OGL.”

E com esse discurso de acabar com mensagens de ódio e discriminatórias, e  impedir que grandes empressas usassem o conteúdo de D&D em projetos blockchain ou NFT, a WoTC elaborou outro esboço com novos termos, com a finalidade de apaziguar a situação com a comunidade.

Nesses novos termos, houve algumas reformulações da ideia inicial, sendo as mais alteradas a estrutura de royaltes proposta, a estrutura de devoluções de licença, que originou o medo no “roubo de conteúdo” mencionado acima.

Porém, por mais que Wizards tentasse acalmar a comunidade e falar que as intenções em suas atitudes eram positivas, a comoção do público com as mais de 77 mil assinaturas no site https://www.opendnd.games/, que lançou a hastag #opendnd, fez com que o dragão vermelho que pairava por cima da WoTC, recuasse para o fim do mundo, onde esperamos nunca mais o ver.

Pesquisas realizadas pela própria Wizards e divulgadas na conta oficial de D&D Beyond fizeram com que a empresa entendesse o quão controversos eram seus termos, e também fez com que compreendessem a situação complicada contra a comunidade, sendo esta um dos grandes motivos de toda a cultura do RPG estar tão em evidência;

E assim, com um simples comunicado feito na conta oficial do D&D Beyond, pudemos ter um vislumbre do futuro que gostaríamos, e com essa retomada dos ideais originais da marca, esperamos que esse mal nunca mais assombre o futuro de D&D e de toda a cultura RPGistica que a envolve.

Mesmo com essas alterações em todo o cenário, é importante mencionar que a partir de hoje as coisas serão envoltas em mudanças, pois, mesmo que tudo volte a ser o que era, a confiança na Wizards nunca mais será a mesma, sendo que podemos ver isso na criação de sistemas próprios por outras editoras como a Kobold Press e a New Order. Assim, podemos esperar muitas mudanças daqui em diante, e o que nos resta é aproveitar.

E é isso aventureiros, espero que tenham gostado desse texto, juro que tentei ser o mais informativo e simples o possível e torço para que ele sirva de ajuda para entenderem o que acontecem no mundo do RPG recentemente.

Muito obrigado pela atenção e enquanto dá uma olhada nessa seção excelente do Blog Caravana, conte para a gente nos comentários, o que você achou de toda essa confusão?